Caros bloguinhos 2003/2004
Por favor vejam as vossas notas temporárias aqui. BOAS FÉRIAS.
3.8.04
21.4.04
Olfacto ou literatura ?
A escritanamesa de Manuel Carvalho e David Lopes Ramos, a propósito de uma prova de “excelentes” colheitas onde foram testados 42 vinhos, publicada no Fugas de 17 de Abril deste ano: “ (...) o de 1990 ostenta ainda uma cor carregada e aroma fechado; o de 1991 é um vinho fresco, com notas de compota de frutos pretos e passas de figo; (...) Finalmente, os “colheitas”, com vinhos que nos comovem, como os de 1890 (engarrafado em 1977), de 1900, 1920 e 1922, frescos, com graus diferentes de secura e notas meladas, muito ricos; outros que nos surpreendem pelo grau de qualidade, com destaque para os de 1937, 1940, 1955 e 1963, com as suas notas de torrefacção, frutos secos, mel e álcool doce e um fim de boca que nunca mais acaba. Desilusão só a colheita de 1970, com notas esquisitas de enxofre e borracha queimada.”
Será esta escrita objectiva ou pura literatura ?
Será esta escrita objectiva ou pura literatura ?
18.4.04
Buffet
Luis Fernando Verissimo é um escritanamesa de muito interesse. No seu livro mais recente "A mesa voadora" da Dom Quixote explica em várias lições como atacar uma mesa de "buffet". Aqui vai um excerto:
"Estude o terreno - O planejamento é importantíssimo. Ao entrar na festa, examine cuidadosamente o buffet. Resista à tentação de começar a botar camarões no bolso. Isto é apenas um reconhecimento.
Decore a localização dos pratos mais importantes. Geralmente há 17 tipos diferentes de salada de batata. Concentre-se numa para não perder tempo depois.
Faça uma anotação mental do melhor acesso à lagosta, se houver. Lembre-se de que dois ou três pedaços de lagosta valem uma travessa de peito de perú em qualquer mercado de valores do mundo. Decida-se por uma estratégia de ataque. Se preciso, estude uma ação diversionista. Na hora de avançar, diriga-se resolutamente para os embutidos e, à última hora, desvie rapidamente para a lagosta, confundindo o inimigo."
"Estude o terreno - O planejamento é importantíssimo. Ao entrar na festa, examine cuidadosamente o buffet. Resista à tentação de começar a botar camarões no bolso. Isto é apenas um reconhecimento.
Decore a localização dos pratos mais importantes. Geralmente há 17 tipos diferentes de salada de batata. Concentre-se numa para não perder tempo depois.
Faça uma anotação mental do melhor acesso à lagosta, se houver. Lembre-se de que dois ou três pedaços de lagosta valem uma travessa de peito de perú em qualquer mercado de valores do mundo. Decida-se por uma estratégia de ataque. Se preciso, estude uma ação diversionista. Na hora de avançar, diriga-se resolutamente para os embutidos e, à última hora, desvie rapidamente para a lagosta, confundindo o inimigo."
16.4.04
Obesidade e genética
Vai-se ouvindo aqui e acolá quando se fala em obesidade do papel dos determinantes genéticos nesta situação. Por exemplo, a obesidade é devida a um conjunto de factores em que o factor genético tem um papel importante. Este discurso mediático culpabilizador do indivíduo que "não teve sorte com os seus genes" tenderá a ser mais visível nos próximos tempos por parte de alguns actores da área alimentar.
As características genéticas poderão predispor, algumas pessoas mais do que outras, para a obesidade. No entanto, o que se sabe actualmente é que o factor calórico é o determinante essencial do aumento da obesidade nos países ocidentais. Em especial quando o preço e a disponibilidade de certas matérias primas como o açúcar e os óleos vegetais passaram a permitir o seu uso generalizado na alimentação humana. O combate à obesidade passará essencialmente, na minha opinião, pela disponibilização de alimentos de grande qualidade nutricional (como hortícolas e fruta, por ex.) a preços acessíveis a toda a população e na capacidade das forças políticas entenderem que o investimento no consumo destes produtos é um investimento económico na sociedade.
As características genéticas poderão predispor, algumas pessoas mais do que outras, para a obesidade. No entanto, o que se sabe actualmente é que o factor calórico é o determinante essencial do aumento da obesidade nos países ocidentais. Em especial quando o preço e a disponibilidade de certas matérias primas como o açúcar e os óleos vegetais passaram a permitir o seu uso generalizado na alimentação humana. O combate à obesidade passará essencialmente, na minha opinião, pela disponibilização de alimentos de grande qualidade nutricional (como hortícolas e fruta, por ex.) a preços acessíveis a toda a população e na capacidade das forças políticas entenderem que o investimento no consumo destes produtos é um investimento económico na sociedade.
15.4.04
Acrilamida II
Continuamos atentos ao que se escreve sobre este assunto. O suplemento semanal dos Diários de Coimbra, Aveiro, Leiria e Diário regional de Aveiro refere na sua edição de 2 de Abril que "Os alimentos com acrilamida motivam discordância científica". Como vê o público este assunto ? Gostava de saber qual a opinião dos leitores quando se expõem apenas os factos com estudos contraditórios. Será que esta informação imparcial mas confusa para o leitor é a mais interessante ? Colocadas as dúvidas da ciência perante factos novos ainda em investigação qual a reacção dos leitores ? Será este tipo de informação útil ?
Estas questões são ainda mais importantes quando hoje existe uma necessidade enorme de lançar temas novos nos meios de comunicação social e, por outro lado, são estes temas os que mais assustam e preocupam os leitores. Esta pressão irá manter-se no futuro. A necessidade de divulgar potenciais malefícios ou benefícios para a saúde decorrentes da ingestão alimentar em áreas pouco conhecidas será crescente e baseada em evidência científica de fraca qualidade. Como reagir a esta situação ?
Estas questões são ainda mais importantes quando hoje existe uma necessidade enorme de lançar temas novos nos meios de comunicação social e, por outro lado, são estes temas os que mais assustam e preocupam os leitores. Esta pressão irá manter-se no futuro. A necessidade de divulgar potenciais malefícios ou benefícios para a saúde decorrentes da ingestão alimentar em áreas pouco conhecidas será crescente e baseada em evidência científica de fraca qualidade. Como reagir a esta situação ?
14.4.04
A Associação Portuguesa dos Nutricionistas (APN) alerta para o facto de existirem no nosso país " diversas situações de má prática na área da nutrição, levadas a cabo por pessoas que não estão devidamente habilitadas para tal e que colocam em causa a saúde pública, os interesses dos consumidores, bem como a imagem profissional dos nutricionistas". Concordo totalmente e acho que face à desregulamentação existente (o consumidor deve estar atento... é o que se diz...) o melhor mesmo é a classe reagir e apontar casos de má prática. Não creio que seja corporativismo. Face à falta de fiscalização e de orientação nestes casos, a classe deve estar unida. Por falar em má prática, continuam as más práticas comunicacionais, agora na revista Vogue de Março 2004, com o artigo "Alimentos que curam - Será que o salmão e as nozes substituirão o Xanax e o Prozac ? "
O tema até poderia ser interessante, mas no fim ficamos com a impressão de que o consumo regular de salmão, de ovos fortificados com ómega-3 ou ainda de azeitonas, pode ser a solução para tratar depressões. Curamos a depressão e morremos ainda mais de AVC devido ao sal das azeitonas. Curamos a depressão e deixamos o pescado da nossa tradição rico em ómega-3 (sardinha, cavala...) para passar a consumir salmão importado e alimentado a ração. Será que não existe outra forma sensata de pegar no assunto ? Porque importamos estas traduções sem relação com a realidade Portuguesa ?
O tema até poderia ser interessante, mas no fim ficamos com a impressão de que o consumo regular de salmão, de ovos fortificados com ómega-3 ou ainda de azeitonas, pode ser a solução para tratar depressões. Curamos a depressão e morremos ainda mais de AVC devido ao sal das azeitonas. Curamos a depressão e deixamos o pescado da nossa tradição rico em ómega-3 (sardinha, cavala...) para passar a consumir salmão importado e alimentado a ração. Será que não existe outra forma sensata de pegar no assunto ? Porque importamos estas traduções sem relação com a realidade Portuguesa ?
MENOS PLÁSTICO
O jornal Globo analisa a utilização de sacos de plástico nos supermercados e o que se está a fazer na Austrália para combater este problema. Este é um custo ambiental relacionado com a compra de alimentos nos supermercados. E em Portugal não podemos fazer nada ? Entretanto, chamo a atenção para os excelentes jornais brasileiros disponíveis on-line e em Português....
" O ministro do Meio Ambiente da Austrália, David Kemp, disse que os supermercados do país devem atingir a meta de redução de uso de sacolas de plástico em 25% até o fim deste ano. Kemp observou que a redução nos poucos meses desde que o compromisso foi assumido já chegou a 12%. Segundo a GreenBiz, a diminuição é resultado de um pacto voluntário entre o governo e o setor, e gerou o Código de Práticas do Varejo. Desde sua adoção, em outubro de 2003, o acordo já foi firmado por 90% dos supermercados australianos, que vêm conduzindo campanhas de educação de consumidores e funcionários, incentivando a adoção de sacolas reutilizáveis. O artigo informa que mais de 50% das 6,9 bilhões de sacolas plásticas usadas na Austrália estão em supermercados."
" O ministro do Meio Ambiente da Austrália, David Kemp, disse que os supermercados do país devem atingir a meta de redução de uso de sacolas de plástico em 25% até o fim deste ano. Kemp observou que a redução nos poucos meses desde que o compromisso foi assumido já chegou a 12%. Segundo a GreenBiz, a diminuição é resultado de um pacto voluntário entre o governo e o setor, e gerou o Código de Práticas do Varejo. Desde sua adoção, em outubro de 2003, o acordo já foi firmado por 90% dos supermercados australianos, que vêm conduzindo campanhas de educação de consumidores e funcionários, incentivando a adoção de sacolas reutilizáveis. O artigo informa que mais de 50% das 6,9 bilhões de sacolas plásticas usadas na Austrália estão em supermercados."
8.4.04
Já me esquecia... A propósito deste projecto, a Comissão Europeia enviou um press release com um resumo dos dados. Pelo menos, um jornal de referência deu no dia seguinte grande destaque ao assunto mas, infelizmente, os jornalistas envolvidos não contactaram os autores do projecto (cujos contactos eram fornecidos) nem fizeram qualquer referência a quem o desenvolve. Limitaram-se a um copy past do press release perdendo assim parte do mais importante que poderia ser dito. Mais tarde e felizmente, os jornalistas da Rádio Comercial e Jornal de Notícias tiveram um comportamento diferente, revelando qualidade e maturidade profissional.
Trustinfood
O nosso projecto Trustinfood continua na ordem do dia. Em colaboração com outros países Europeus, estamos a analisar as condições necessárias para que exista confiança na alimentação e nos alimentos em particular. Entre outros dados interesantes, reparámos que nos países onde existe um maior nível de confiança nos alimentos existe também mais confiança nas instituições que regulam a qualidade dos alimentos. Ou seja, quem quiser aumentar a confiança dos consumidores nos alimentos, em vez de se preocupar tanto com os alimentos, atribuindo rótulos, etc... devería dar mais atenção a quem faz o quê no sistema e como. Ou seja, a chamada public accountability, palavra para a qual não existe uma tradução em Português. Já agora, quem quiser saber mais sobre o projecto pode visitar a página do Trustinfood.
5.4.04
Sigamos o Cherne
Com a poesia aprende-se a arte de comprimir palavras sem perder o norte. O que vem mesmo a calhar para quem é candidato a divulgar ciência de forma simples e rigorosa.
Alexandre O'Neill, o mais subversivo poeta português, deixou-nos uma série de escritanamesa sobre animais e comidas que por vezes me apetece recordar. Este cherne é de 1958, do tempo da outra senhora (por favor, não fazer confusões...):
Sigamos o cherne, minha Amiga !
Desçamos ao fundo do desejo
Atrás de muito mais que a fantasia
E aceitemos, até, do cherne um beijo,
Senão já com amor, com alegria...
Em cada um de nós circula o cherne,
Quase sempre mentido e olvidado.
Em água silenciosa de passado
Circula o cherne: traído
Peixe recalcado...
Sigamos, pois, o cherne, antes que venha,
Já morto, boiar ao lume da água,
Nos olhos rasos de água,
Quando, mentido o cherne a vida inteira,
Não somos mais que solidão e mágoa...
Alexandre O'Neill, o mais subversivo poeta português, deixou-nos uma série de escritanamesa sobre animais e comidas que por vezes me apetece recordar. Este cherne é de 1958, do tempo da outra senhora (por favor, não fazer confusões...):
Sigamos o cherne, minha Amiga !
Desçamos ao fundo do desejo
Atrás de muito mais que a fantasia
E aceitemos, até, do cherne um beijo,
Senão já com amor, com alegria...
Em cada um de nós circula o cherne,
Quase sempre mentido e olvidado.
Em água silenciosa de passado
Circula o cherne: traído
Peixe recalcado...
Sigamos, pois, o cherne, antes que venha,
Já morto, boiar ao lume da água,
Nos olhos rasos de água,
Quando, mentido o cherne a vida inteira,
Não somos mais que solidão e mágoa...
4.4.04
BSE: Sistema português de identificação de bovinos sem aprovação de Bruxelas
Notícia da Lusa no Público on-line de Domingo:
"O sistema de identificação de bovinos português, criado na sequência do combate à encefalopatia espongiforme bovina (BSE), funciona há mais de quatro anos sem ter sido aprovado pela Comissão Europeia, revela o bastonário da Ordem dos Veterinários.
(...) O Sistema Nacional de Identificação e Registo de Bovinos (SNIRB), criado pelo governo socialista, é uma base de dados onde devem ser introduzidos todos os passos do animal, desde o seu nascimento até ao prato do consumidor. "O SNIRB é uma base de dados que deveria estar aprovada pela União Europeia. Não está porque a Comissão não considera que existam condições para a aprovar e tem havido visitas frequentes de peritos", comentou o bastonário Cardoso Resende."
Esta notícia deverá (deveria) ser comentada na segunda-feira pelo Ministério da Agricultura (MA) mal este abra as portas, às 9.00 da manhã. Ou talvez não. Vamos esperar... e ver como o MA vai lidar do ponto de vista mediático com este ataque (mais um) à confiança dos consumidores no sistema.
"O sistema de identificação de bovinos português, criado na sequência do combate à encefalopatia espongiforme bovina (BSE), funciona há mais de quatro anos sem ter sido aprovado pela Comissão Europeia, revela o bastonário da Ordem dos Veterinários.
(...) O Sistema Nacional de Identificação e Registo de Bovinos (SNIRB), criado pelo governo socialista, é uma base de dados onde devem ser introduzidos todos os passos do animal, desde o seu nascimento até ao prato do consumidor. "O SNIRB é uma base de dados que deveria estar aprovada pela União Europeia. Não está porque a Comissão não considera que existam condições para a aprovar e tem havido visitas frequentes de peritos", comentou o bastonário Cardoso Resende."
Esta notícia deverá (deveria) ser comentada na segunda-feira pelo Ministério da Agricultura (MA) mal este abra as portas, às 9.00 da manhã. Ou talvez não. Vamos esperar... e ver como o MA vai lidar do ponto de vista mediático com este ataque (mais um) à confiança dos consumidores no sistema.
3.4.04
Inovação
Decorre durante este fim de semana na Exponor a feira Alimentação 2004. Quem quiser assistir à construção do mercado alimentar ibérico poderá ver como ele já se definiu. Paralelamente, decorreram diversos seminários interessantes na Sexta-feira e no Sábado (2 e 3 Abril). A palavra inovação aparece em todas as empresas do ramo as quais repetem continuadamente que sem inovação não é possível criar novos produtos agora que surgem novas necessidades. O problema na inovação alimentar prende-se com o tempo. Um exemplo? Adicionaram-se anti-oxidantes a tudo quanto era alimento sem qualquer regulação. Sumos com Vit. C, Cereais com Vit E, mais Selénio, Zinco e Betacarotenos em diversos alimentos. Por vezes, adicionaram-se estas vitaminas e oligoelementos a alimentos pobres que continham açúcar e pouco mais (sumos, cereais de pequeno-almoço...), apenas para lhe acrescentar valor. Ora os seres vivos possuem sistemas anti-oxidantes naturais, compostos por diversos enzimas, que ao receberem quantidades ocasionais e elevadíssimas destas substâncias adicionadas aos alimentos, poderão originar efeitos contrários, aumentando por exemplo a própria oxidação que se pretendia inibir. Neste momento desenvolvem-se investigações nesta área e existem indicações neste sentido. Qual o impacte da ingestão continuada de alimentos enriquecidos em anti-oxidantes no futuro ? Um cancro pode levar 10 anos a se desenvolver. Como avaliar o efeito desta inovação ?
1.4.04
Ingestão tardia de poucas calorias prolonga a vida
"ESTUDO
Ingestão tardia de poucas calorias prolonga a vida
A ingestão de poucas calorias prolonga a vida em qualquer idade. Um estudo norte-americano mostra que a redução da quantidade de calorias consumidas parece prolongar a vida dos ratos, mesmo quando essa redução ocorre tardiamente.
(...) Os resultados em ratos de laboratório permitiram à equipa da Universidade da Califórnia acreditar que nos humanos, seja qual for a idade, os benefícios podem ser idênticos basta que se comece a cortar nas calorias ingeridas a partir da próxima refeição."
Porque razão não existe bom senso e qualidade na escrita jornalistíca sobre temas delicados como este ? Quem ler este artigo poderá pensar que comer menos significa maior longevidade. O texto vem de um site de referência. Muitos dos nossos idosos comem menos do que deviam e com pior qualidade do que deviam. Qual o impacte destas notícias ? Quem as regula ?
Ingestão tardia de poucas calorias prolonga a vida
A ingestão de poucas calorias prolonga a vida em qualquer idade. Um estudo norte-americano mostra que a redução da quantidade de calorias consumidas parece prolongar a vida dos ratos, mesmo quando essa redução ocorre tardiamente.
(...) Os resultados em ratos de laboratório permitiram à equipa da Universidade da Califórnia acreditar que nos humanos, seja qual for a idade, os benefícios podem ser idênticos basta que se comece a cortar nas calorias ingeridas a partir da próxima refeição."
Porque razão não existe bom senso e qualidade na escrita jornalistíca sobre temas delicados como este ? Quem ler este artigo poderá pensar que comer menos significa maior longevidade. O texto vem de um site de referência. Muitos dos nossos idosos comem menos do que deviam e com pior qualidade do que deviam. Qual o impacte destas notícias ? Quem as regula ?
E na área da nutrição ?
Para melhorar a vossa capacidade de fazer pesquisa na net aqui fica este interessante teste. Para quando uma coisa destas sobre nutrição e alimentação ?
31.3.04
Acrilamida
Esta substância tóxica utilizada na industria e presente no fumo dos cigarros foi detectada o ano passado e de forma acidental nos alimentos. Parece resultar do processamento térmico (fritar, assar...) e provavelmente sempre existiu nos alimentos. A FDA norte-americana revelou este mês os resultados de análises feitas a certos alimentos, como batatas-fritas e outros produtos consumidos regularmente. Vamos seguir atentamente este assunto. Por um lado, a acrilamida é tóxica e até cancerígena, por outro lado é provável que tenha existido nos alimentos processados desde que utilizamos o fogo... Como vão os nossos media divulgar este controverso assunto ? A seguir...
30.3.04
Hospital de S. João com ligação a galeria comercial
Notícia retirado do interessante Jornalismoportonet
um jornal digital de alunos da UP
"A cidade do Porto tem mais uma galeria comercial, o Campus São João. É um projecto inovador e a originalidade reside no facto de a galeria ter ligação directa ao hospital de São João. (...) Ontem, em dia de inauguração do espaço, Vítor Ruivo, presidente do Conselho Administrativo da Mundicenter, realçou que esta galeria tem um conceito diferente dos demais centros comerciais, pois “tem clientelas muito específicas”. Por um lado, dirige-se aos estudantes do pólo universitário da Asprela e, por outro, a todos que trabalham ou frequentam o hospital, que tem ligação directa à praça da restauração do Campus São João.
O administrador do Hospital São João passou em revista os problemas que estiveram por trás da construção do edifício e que levaram a que tivesse “um parto algo longo e difícil”. Segundo Mário Carvalho, as dificuldades resultaram da “originalidade do projecto” e da “difícil articulação da iniciativa pública com a iniciativa privada”.
Um breve comentário:
A partir de hoje os futuros licenciados da Universidade do Porto poderão passar a relembrar os bons velhos tempos de estudante passados na praça de fast-food deste centro comercial em pleno hospital. A sua cultura alimentar sairá enriquecida. A sua saúde sairá fortalecida. Mente sã em corpo sadio fruto do "investimento público" em articulação com o privado, zelando pelo bem estar dos futuros decisores deste país. Estes...aprenderão a comer com as mãos, com talheres de plástico, a conversar pausadamente de questões relevantes em ambiente calmo e sossegado e com um pouco de sorte ainda receberão brindes de peluche e jogos da Disney em cada visita. Paralelamente poderão observar as mães das crianças obesas que foram observadas na consulta de nutrição a oferecer um menú infantil (com pouco ketchup) aos seus rebentos que se portaram muito bem. Uma autêntica lição viva de cultura e promoção da saúde em ambiente hospitalar e universitário (muito procurado diga-se de passagem).
um jornal digital de alunos da UP
"A cidade do Porto tem mais uma galeria comercial, o Campus São João. É um projecto inovador e a originalidade reside no facto de a galeria ter ligação directa ao hospital de São João. (...) Ontem, em dia de inauguração do espaço, Vítor Ruivo, presidente do Conselho Administrativo da Mundicenter, realçou que esta galeria tem um conceito diferente dos demais centros comerciais, pois “tem clientelas muito específicas”. Por um lado, dirige-se aos estudantes do pólo universitário da Asprela e, por outro, a todos que trabalham ou frequentam o hospital, que tem ligação directa à praça da restauração do Campus São João.
O administrador do Hospital São João passou em revista os problemas que estiveram por trás da construção do edifício e que levaram a que tivesse “um parto algo longo e difícil”. Segundo Mário Carvalho, as dificuldades resultaram da “originalidade do projecto” e da “difícil articulação da iniciativa pública com a iniciativa privada”.
Um breve comentário:
A partir de hoje os futuros licenciados da Universidade do Porto poderão passar a relembrar os bons velhos tempos de estudante passados na praça de fast-food deste centro comercial em pleno hospital. A sua cultura alimentar sairá enriquecida. A sua saúde sairá fortalecida. Mente sã em corpo sadio fruto do "investimento público" em articulação com o privado, zelando pelo bem estar dos futuros decisores deste país. Estes...aprenderão a comer com as mãos, com talheres de plástico, a conversar pausadamente de questões relevantes em ambiente calmo e sossegado e com um pouco de sorte ainda receberão brindes de peluche e jogos da Disney em cada visita. Paralelamente poderão observar as mães das crianças obesas que foram observadas na consulta de nutrição a oferecer um menú infantil (com pouco ketchup) aos seus rebentos que se portaram muito bem. Uma autêntica lição viva de cultura e promoção da saúde em ambiente hospitalar e universitário (muito procurado diga-se de passagem).
A relembrar
No nosso país ainda não existe regulação sobre a profissão de Nutricionista. Em todo o caso, recordo o que diz o Código de Ética do Profissional Nutricionista no Brasil um país bem mais "avançado" do que o nosso neste aspecto:
" Seção III - Das Proibições
Art. 9º. É vedado ao Nutricionista:
(...) valer-se de sua profissão para divulgar e/ou permitir a divulgação, em veículos de comunicação de massa, de marcas de produtos ou nomes de empresas, ligadas às atividades de alimentação e nutrição;
XI - dar, através de qualquer meio de comunicação de massa, atendimento individual, sob forma de consultas, diagnósticos ou dietas;"
Gostaria que alguns colegas reflectissem sobre este assunto controverso.
" Seção III - Das Proibições
Art. 9º. É vedado ao Nutricionista:
(...) valer-se de sua profissão para divulgar e/ou permitir a divulgação, em veículos de comunicação de massa, de marcas de produtos ou nomes de empresas, ligadas às atividades de alimentação e nutrição;
XI - dar, através de qualquer meio de comunicação de massa, atendimento individual, sob forma de consultas, diagnósticos ou dietas;"
Gostaria que alguns colegas reflectissem sobre este assunto controverso.
29.3.04
Transcrevo o excerto publicado no excelente webjornal - blog dedicado à comunicação e jornalismo citando Estrela Serrano na sua última coluna como Provedora do Leitor do DN:
"(...) a sensação que mais permanentemente acompanhou a provedora ao longo destes três anos foi a de que, apesar das sofisticadas técnicas de conhecimento das audiências, os jornalistas ou não conhecem os seus públicos (que não se confundem com as audiências) ou os ignoram. A ideia de que os jornalistas escrevem, sobretudo, para as suas fontes, para os seus pares e para as suas hierarquias continua a revelar-se pertinente."
Parece-me que esta frase se aplica de igual modo a muitos daqueles que escrevem sobre nutrição e alimentação nos nossos media. Saberão muitos deles quem é o seu verdadeiro público ? Qual o seu grau de literacia ? O que fica no fim da leitura destes textos ?
"(...) a sensação que mais permanentemente acompanhou a provedora ao longo destes três anos foi a de que, apesar das sofisticadas técnicas de conhecimento das audiências, os jornalistas ou não conhecem os seus públicos (que não se confundem com as audiências) ou os ignoram. A ideia de que os jornalistas escrevem, sobretudo, para as suas fontes, para os seus pares e para as suas hierarquias continua a revelar-se pertinente."
Parece-me que esta frase se aplica de igual modo a muitos daqueles que escrevem sobre nutrição e alimentação nos nossos media. Saberão muitos deles quem é o seu verdadeiro público ? Qual o seu grau de literacia ? O que fica no fim da leitura destes textos ?
28.3.04
Fome em Portugal
A ler urgentemente se quisermos entender os mecanismos da fome: Pobreza e fomes - um ensaio sobre direitos e privações, de Amartya Sen, Prémio Nobel da Economia em 1998 e publicado em Portugal na editora Terramar. Este polémico economista desfez a noção que se passava fome quando faltava a comida. Para ele passa fome quem não consegue trocar o que produz por alimentos. E na nossa sociedade, com muito trabalho mas com baixos rendimentos, essa realidade dói cada vez mais. Em especial quando se esvazia o mundo rural e os laços que nos ligavam à produção agrícola. Aqui fica a primeira frase do Capítulo I:
"Morrer de fome é característico de algumas pessoas que não têm alimentos suficientes para comer. Não é característico de não haver alimentos suficientes para comer."
"Morrer de fome é característico de algumas pessoas que não têm alimentos suficientes para comer. Não é característico de não haver alimentos suficientes para comer."
21.3.04
Paranóia securitária
Por esta Europa fora só se fala de segurança alimentar. Até os cozinheiros já são especialistas em hotelaria e segurança alimentar... Introduziu-se à força na nossa produção alimentar a palavra segurança alimentar. Criaram-se empresas para controlar a segurança alimentar. Instituíram-se símbolos para certificar a certificação. Assim, os alimentos mais seguros passaram a ser aqueles produzidos de forma uniforme, controlados higienicamente, embalados automaticamente, de forma barata, algures na China. Os nossos políticos ainda não pararam para pensar que a lógica securitária é uma das maiores ameaças ao nosso património cultural alimentar ?
20.3.04
Uma pérola
Gostaria de partilhar este pequeno texto "de divulgação científica" inserida no site da ARAP (Associação dos Refinadores de Açúcar Portugueses) .
"Factores dietéticos
O efeito da alimentação no desenvolvimento de cáries não é tão directo como se crê. Apesar de ter sido demonstrada a ligação entre o consumo de hidratos de carbono e a cárie dentária, este vínculo está, actualmente, a perder credibilidade na maior parte dos países europeus. Muitas pessoas consomem regularmente quantidades elevadas de açúcar e não sofrem de cáries nos dentes."
De facto, não existe aqui nenhuma incorrecção. Algumas crianças consomem regularmente grandes quantidades de açúcar mas depois de cada guloseima lavam os dentes, praticam desporto e vão ao dentista periodicamente. Essas, provavelmente não sofrem de cárie. No entanto, a maioria, (em especial as mais carenciadas) não lava os dentes depois de cada rebuçado, pratica pouco desporto e não tem acesso facilitado aos dentistas. Neste grupo, o açúcar pode contribuir de forma assustadora para a cárie, para obesidade e para uma enorme quantidade de patologias associadas.
A comunicação institucional destas associações e empresas utiliza cada vez mais a ciência para "vender" os seus produtos. Sendo a ciência algo de inacabado é sempre possível a sua utilização. Éticamente...já esta utilização é mais questionável. Deixo ao vosso critério.
"Factores dietéticos
O efeito da alimentação no desenvolvimento de cáries não é tão directo como se crê. Apesar de ter sido demonstrada a ligação entre o consumo de hidratos de carbono e a cárie dentária, este vínculo está, actualmente, a perder credibilidade na maior parte dos países europeus. Muitas pessoas consomem regularmente quantidades elevadas de açúcar e não sofrem de cáries nos dentes."
De facto, não existe aqui nenhuma incorrecção. Algumas crianças consomem regularmente grandes quantidades de açúcar mas depois de cada guloseima lavam os dentes, praticam desporto e vão ao dentista periodicamente. Essas, provavelmente não sofrem de cárie. No entanto, a maioria, (em especial as mais carenciadas) não lava os dentes depois de cada rebuçado, pratica pouco desporto e não tem acesso facilitado aos dentistas. Neste grupo, o açúcar pode contribuir de forma assustadora para a cárie, para obesidade e para uma enorme quantidade de patologias associadas.
A comunicação institucional destas associações e empresas utiliza cada vez mais a ciência para "vender" os seus produtos. Sendo a ciência algo de inacabado é sempre possível a sua utilização. Éticamente...já esta utilização é mais questionável. Deixo ao vosso critério.
19.3.04
Escrita anti-depressão
Os Portugueses que já eram deprimidos, estão piores nos últimos tempos. Contudo, aqui vão alguns excertos sobre a alimentação portuguesa e o Porto, publicados na revista Connect (ligada ao grupo Le Soir), número 70, de 15 de Março de 2004:" I went there to enjoy the Portuguese, and maybe to learn how they perfect that unique balance in their lives between what is really important and what in the end is simply superfluous." ..." Oporto is a city where enjoying yourself is immensely affordable. Dinner or lunch can cost only 15 Euros. For about 5 Euros you can have a "Francesinha" which is a Portuguese version of a croque monsieur, except a lot better." E a escrita na mesa continua assim, em tons de azul por duas páginas... Vá lá que o jornalista que escreveu não é do Porto nem pertence ao sistema do FCP.
10.3.04
Dúvidas
Duas frases que marcam uma discussão recente. Uma no editorial do boletim da Organização Mundial de Saúde (2003, 81,8):"Crianças com consumos elevados de refrigerantes ricos em açúcar possuem maiores probabilidades de serem obesas". Outra adoptada pelo governo norte-americano: "Os estudos realizados até agora são ainda insuficientes para suportar uma associação entre a ingestão deste tipo de bebidas e a probabilidade de uma criança se tornar obesa" (The Secretary of Health and Human Services, 2003). Como é que nós consumidores gerimos esta informação. E os profissionais da educação. E já agora... os jornalistas ?
8.3.04
Uma curiosidade. Quem visitou a Inglaterra e regressa lá agora percebe como está diferente a oferta. Mais variedade e qualidade dos frescos. Mais qualidade e variedade dos vinhos. Mais de tudo. Contudo, a cozinha dos indígenas, que me recebem sempre muito bem, continua pobre e engordurada. O que talvez queira dizer que a nossa forma de cozinhar muda mais lentamente do que a disponibilidade. O que talvez também pode querer dizer que quando quisermos mudar a nossa alimentação já poderá ser tarde.
De volta
Tal como previa não foi possível manejar o blogger de Manchester. Em todo o caso nas leituras de viagem ficou na retina uma coluna muito interessante no Independent escrita por Heston Blumenthal chamada The Appliance of Science. De uma forma simples tenta passar-se para o leitor algumas questões técnicas relacionadas com a prática culinária misturando a física, a química e outras ciências. Desta vez abordava-se o facto de por vezes se deixar a carne "descansar" durante alguns dias antes de cozinhar. Esta prática é muito comum com as peças de caça. Explica-se porque razão a carne pode ficar mais saborosa e a partir de quantos dias esta técnica deixava de ter efeito. Aqui fica uma sugestão para novos escritos na mesa sem ser sempre sobre a mesma coisa. Pode que a nossa literacia sobre ciência aumente tocando a comida e as suas artes que interessam a muita gente.
29.2.04
Caros amigos que partilham este espaço e o fazem amadurecer, vamos estar para fora durante a próxima semana. Apesar de a rede não ter fronteiras dificilmente conseguiremos colocar algo por aqui. Prometemos mais vigor e entusiasmo no regresso. Para os bloquinhos, uma mensagem especial.. o tempo corre depressa.
Higiene oral: o açúcar não é inimigo
A propósito do Mestre Emílio Peres e do seu discurso sobre o açúcar e ainda do recurso à ciência para legitimar determinadas mensagens na área da nutrição, leiam com olhos de ver um texto que começa assim no site da Associação dos Refinadores de Açúcar Portugueses.
"Nas últimas três décadas, apesar de o consumo de açúcar ter sido uma constante, as cáries dentárias em crianças e adolescentes da maioria dos países europeus têm decrescido. Quais serão as causas desta tendência positiva? Aparentemente, o mérito pertence a uma higiene oral melhor (escovar os dentes com mais frequência e usar fio dental) e ao flúor."
"Nas últimas três décadas, apesar de o consumo de açúcar ter sido uma constante, as cáries dentárias em crianças e adolescentes da maioria dos países europeus têm decrescido. Quais serão as causas desta tendência positiva? Aparentemente, o mérito pertence a uma higiene oral melhor (escovar os dentes com mais frequência e usar fio dental) e ao flúor."
O mestre
Nesta radiosa manhã de Domingo recordo a escrita do Mestre Emílio Peres, sempre limpída e inspiradora: (desta vez a propósito do consumo de açúcar)
"Desde a Antiguidade até ao século passado, o açúcar foi acima de tudo produto de farmácia. Também distinguia os senhores ricos da bacia mediterrânica, sobretudo muçulmanos e italianos, que o usavam em festivas guloseimas dulcíssimas." In Alimentação Saudável. Ed. Caminho, 1991.
Em poucas palavras, o açúcar é devolvido à sua condição de alimento de luxo, ocasional e próprio de festejos, muito diferente daquele com que vivemos todos os dias nesta sociedade açucarada e obesa ... Viva o açúcar de ocasião depois da fausta refeição, ocasional, domingueiro... não aquele que diariamente perturba o funcionamento do fígado e pâncreas, empobrece refeições e favorece a cárie.
"Desde a Antiguidade até ao século passado, o açúcar foi acima de tudo produto de farmácia. Também distinguia os senhores ricos da bacia mediterrânica, sobretudo muçulmanos e italianos, que o usavam em festivas guloseimas dulcíssimas." In Alimentação Saudável. Ed. Caminho, 1991.
Em poucas palavras, o açúcar é devolvido à sua condição de alimento de luxo, ocasional e próprio de festejos, muito diferente daquele com que vivemos todos os dias nesta sociedade açucarada e obesa ... Viva o açúcar de ocasião depois da fausta refeição, ocasional, domingueiro... não aquele que diariamente perturba o funcionamento do fígado e pâncreas, empobrece refeições e favorece a cárie.
23.2.04
A propósito de um comentário sobre a utilização da ciência nos debates políticos veja-se a polémica em torno dos refrigerantes. A administração Bush criticou recentemente a OMS pelo facto de esta ter alertado para o impacto que estas bebidas podem ter no desenvolvimento da obesidade.Para a administração Bush, esta recomendação não tem fundamento científico pois até hoje os peritos não conseguiram provar que bebidas deste tipo têm influência no desenvolvimento da obesidade. Os argumentos e contra-argumentos desta discussão podem ser vistos no site de Henry Waxman e do seu grupo de trabalho.
O livro de Bjorn Lomborg: "The SKeptical Environmentalist" lançou uma tremenda polémica. Apesar de posteriormente o autor ter sido considerado "desonesto", o seu livro sobre o ambiente foi na altura um sucesso mediático lançando um grande debate sobre as questões ambientais. Contudo as suas conclusões (por ex: o ar de Londres é hoje mais puro do que em 1585) foram baseadas em estudos não revistos por colegas (peer-reviewed). O livro foi muito bem aceite pelos media. Este autor desconhecido começou a ter sucesso antes de o mundo académico ter tido tempo para analisar as conclusões emitidas no livro. A velocidade dos media sobre a análise crítica dos cientistas revela uma nova questão. Nestes tempos de grande velocidade deverá ser maior a responsabilidade dos media ? A história deste caso pode ser lida sumariamente no scienceandmedia
20.2.04
Nem de propósito, surgiu hoje uma referência ao relatório Henry Waxman no qual se demonstra como é que a política e a ciência estão cada vez mais perto. Serão apenas os políticos a manipular dados fornecidos pelos cientistas? No caso Português, as comissões de peritos têm servido basicamente para legitimar algumas decisões do poder político. Quando as conclusões são opostas ao que se queria, o estudo fica geralmente na gaveta. Outras questões, como o verdadeiro custo e eficácia dos Hospitais SA, por exemplo, merecem certamente uma análise económica e social de jornalistas especialistas na matéria com tempo para estudarem os temas. Quem comunica sobre nutrição necessita pois de um conhecimento aprofundado sobre a ciência mas também uma consciência crítica face à informação existente.
19.2.04
A responsabilidade é apenas de quem escreve ?
Recentemente (2002) Hugo Mendes escreveu sobre a visibilidade da ciência nos mass media, no livro organizado por Maria Eduarda Gonçalves intitulado "Os Portugueses e a Ciência" publicado pela Dom Quixote. A certa altura diz o autor "Enquanto os avanços científicos parecem apelar para o aprofundamento da reflexão sobre a responsabilidade dos cientistas, estes encontraram mais um grupo para o qual podem transferir parte dessa responsabilidade: os jornalistas". De facto, ouve-se frequentemente dizer que o jornalista não soube "ouvir" o que se transmitiu, que transformou a informação dada ou até que a descontextualizou. Parece-nos que, sendo actualmente a informação produzida pela ciência determinante para o nosso desenvolvimento humano e social, quem a produz deverá tentar perceber a melhor forma de a divulgar.
Comunicação Institucional - I
Os Nutricionistas e demais profissionais de saúde estão cada vez mais envolvidos nos processos comunicacionais das instituições. Recebemos 2 revistas onde essa actividade é relevante. A primeira chama-se Az-zait e pertence à Associação do Azeite de Portugal (www.casadoazeite.pt) tendo ganho recentemente diversos prémios a nível nacional e internacional. A segunda chama-se iogurte vivo e pertence ao Centro de Informação do Iogurte. Qual o papel do Nutricionista neste tipo de revistas ? Qual a dimensão ética do seu contributo e que questões se podem levantar ?
17.2.04
16.2.04
Descobri mais um interessante espaço de crítica na área da educação para a saúde. Muito interessante para Nutricionistas e Professores interessados nas questões da Saúde.
Dieta Mediterrânica
Há 300 anos, a carne de vaca era dura e provavelmente pouco apreciada na Península Ibérica. Comenta Cervantes, sobre Dom Quixote, cavaleiro na penúria, que no momento de entrar para a cavalaria a sua situação não iria melhorar pois comeria "mais seguidamente boi que carneiro".
Que riqueza tem este nosso padrão alimentar que herdou o carneiro e o grão dos Árabes e lhe acrescentou a canela e a pimenta dos Reinos de além-mar. Depois, chegou o Império do bife a cavalo e perdemos de vista o outro cavaleiro. Com o bife chegaram as natas, a carne picada e a gordura saturada de uma política agrícola em ruptura com as nossas raízes e entupidora das nossas artérias. Que diriam as nossas avós da crise da BSE ? Creio que entre um caldo verde e uma pratada de grão com massa iriam rir-se destas ansiedades modernas...
Que riqueza tem este nosso padrão alimentar que herdou o carneiro e o grão dos Árabes e lhe acrescentou a canela e a pimenta dos Reinos de além-mar. Depois, chegou o Império do bife a cavalo e perdemos de vista o outro cavaleiro. Com o bife chegaram as natas, a carne picada e a gordura saturada de uma política agrícola em ruptura com as nossas raízes e entupidora das nossas artérias. Que diriam as nossas avós da crise da BSE ? Creio que entre um caldo verde e uma pratada de grão com massa iriam rir-se destas ansiedades modernas...
Esta semana vão juntar-se ao blog mais bloguinhos. Trata-se de um projecto desenvolvido na disciplina de comunicação da licenciatura em Ciências da Nutrição da Faculdade de Ciências da Nutrição e Alimentação da Universidade do Porto (FCNAUP). O objectivo é construir uma rede de crítica construtiva ao que se escreve sobre nutrição na nossa imprensa. Tentarei dar conta do andamento do projecto aqui, bem como colocar brevemente os links para os respectivos espaços críticos.
15.2.04
Escrever sobre alimentação implica responsabilidade - II
Apanho diversas frases soltas do artigo "A revolução na nossa mesa" publicado na Revista Focus nº 225 de 2004 assinado por Patrícia Correia Branco:
" Então o melhor é usar apenas azeite e vinagre que, apesar de terem muitas calorias, são consideradas gorduras saudáveis".
"A dieta mediterrânica... é rica em proteínas, vitaminas e outras substâncias essenciais..."
O vinagre obviamente não é uma gordura. Quanto à dieta mediterrânica poderemos acrescentar que se trata de um padrão alimentar onde está presente o azeite como gordura central. Os produtos hortícolas, as frutas e os cereais abundam, assim como as leguminosas (feijão, grão, lentilha...) que são muito frequentes. O vinho ou o chá bebe-se ocasionalmente a acompanhar as refeições. A carne e o pescado consomem-se com bastante moderação. Este padrão alimentar com grande recurso aos produtos vegetais e promotor de uma grande frugalidade, fornece uma grande quantidade de substâncias protectoras, gordura e hidratos de carbono de grande qualidade. Ao contrário dos padrões alimentares dos países do Norte da Europa, a quantidade total de proteína é moderada ou até baixa. Isto não impede as populações que praticam este regime alimentar de terem grande longevidade e menor prevalência de doença oncológica e cardiovascular. Para saber mais sobre este assunto aconselho a visita de um espaço na net dedicado ao assunto.
" Então o melhor é usar apenas azeite e vinagre que, apesar de terem muitas calorias, são consideradas gorduras saudáveis".
"A dieta mediterrânica... é rica em proteínas, vitaminas e outras substâncias essenciais..."
O vinagre obviamente não é uma gordura. Quanto à dieta mediterrânica poderemos acrescentar que se trata de um padrão alimentar onde está presente o azeite como gordura central. Os produtos hortícolas, as frutas e os cereais abundam, assim como as leguminosas (feijão, grão, lentilha...) que são muito frequentes. O vinho ou o chá bebe-se ocasionalmente a acompanhar as refeições. A carne e o pescado consomem-se com bastante moderação. Este padrão alimentar com grande recurso aos produtos vegetais e promotor de uma grande frugalidade, fornece uma grande quantidade de substâncias protectoras, gordura e hidratos de carbono de grande qualidade. Ao contrário dos padrões alimentares dos países do Norte da Europa, a quantidade total de proteína é moderada ou até baixa. Isto não impede as populações que praticam este regime alimentar de terem grande longevidade e menor prevalência de doença oncológica e cardiovascular. Para saber mais sobre este assunto aconselho a visita de um espaço na net dedicado ao assunto.
14.2.04
Escrever sobre alimentação implica responsabilidade - I
A primeira questão que salta à vista neste texto da Focus são algumas frases que podem prejudicar seriamente quem as lê. Um exemplo ? Aqui vai. "Água, sumos naturais e bebidas sem açúcar, álcool e cafeína são as mais indicadas para matar a sede". A forma como a frase está escrita pode levar a pensar que o álcool e a cafeína são substâncias indicadas para "matar a sede". O álcool e cafeína são substâncias com efeito diurético, podendo actuar como desidratantes, precisamente o contrário do que se diz no texto. Quem bebe álcool para matar a sede acelera a desidratação que em casos extremos pode originar a morte. Quem bebe regularmente álcool para matar a sede, substituindo a àgua, corre o risco de afectar fígado e rins, o sistema nervoso e órgãos mais activos como o pâncreas.
Apesar de em seguida se tentar explicar o mecanismo de actuação da cafeína e do álcool sobre a nossa saúde, a pontuação desta frase pode afectar o seu entendimento e prejudicar a saúde de quem a lê.
Apesar de em seguida se tentar explicar o mecanismo de actuação da cafeína e do álcool sobre a nossa saúde, a pontuação desta frase pode afectar o seu entendimento e prejudicar a saúde de quem a lê.
11.2.04
Revista Focus
A revista Focus nº 225 de 4 de Fevereiro vais ser o nosso primeiro tema de debate. Com o título "A revolução na nossa mesa" a colaboradora Patrícia Branco escreveu um texto sobre a nova Roda dos Alimentos. Neste texto (páginas 32 a 35) encontrámos dezenas de imprecisões que iremos analisar à lupa nos próximos posts.
2.2.04
Gostei de um projecto da Universidade do Minho com a disciplina de jornalismo. A experiência é muito interessante e extremamente concorrida.
1.2.04
O nosso objectivo é fazer uma crítica construtiva à escrita sobre nutrição nas revistas e jornais que se publicam em Portugal. Neste projecto estão envovidos vários grupos de pessoas, todos estudantes do ensino superior, com interesse pelas ciências da nutrição. Estes grupos irão manter activos espaços de crítica até pelos menos Junho de 2004. Os endereços serão divulgados em breve. Depois desta data logo se verá.
A primeira questão a debater é o que entendemos por crítica construtiva.
Pretende-se rigor científico. Esse critério é relativamente simples, apesar de nem sempre a ciência ser a preto e branco.
Pretende-se clareza. Ser claro significa passar a mensagem de forma simples e acessível a todo o público alvo. Bem sabemos que aqui a coisa torna-se mais difícil de avaliar. Tentaremos ser justos.
Pretende-se consistência. As ciências da nutrição nasceram há pouco tempo e, como em muitas outras áreas do saber, existem ainda muitas dúvidas. Quem escreve deve dar a sua opinião e colocar os seus argumentos na mesa de forma ordenada.
Pretende-se sentido ético. Quando sentirmos que o objectivo está situado para além daquilo que entendemos como divulgação científica não vamos hesitar e chamaremos a atenção.
Pretende-se também algum prazer. Da ironia, do sentido de humor, da boa escrita, dos temas interessantes, da mais valia que trouxeram ao nosso dia-a-dia.
Esperamos agora que os visados entendam que este espaço experimental é um pequeno e muito modesto contributo para a melhoria dos conteúdos. Nada mais. Esperamos todos "crescer" nesta troca de opiniões, neste debate...
A primeira questão a debater é o que entendemos por crítica construtiva.
Pretende-se rigor científico. Esse critério é relativamente simples, apesar de nem sempre a ciência ser a preto e branco.
Pretende-se clareza. Ser claro significa passar a mensagem de forma simples e acessível a todo o público alvo. Bem sabemos que aqui a coisa torna-se mais difícil de avaliar. Tentaremos ser justos.
Pretende-se consistência. As ciências da nutrição nasceram há pouco tempo e, como em muitas outras áreas do saber, existem ainda muitas dúvidas. Quem escreve deve dar a sua opinião e colocar os seus argumentos na mesa de forma ordenada.
Pretende-se sentido ético. Quando sentirmos que o objectivo está situado para além daquilo que entendemos como divulgação científica não vamos hesitar e chamaremos a atenção.
Pretende-se também algum prazer. Da ironia, do sentido de humor, da boa escrita, dos temas interessantes, da mais valia que trouxeram ao nosso dia-a-dia.
Esperamos agora que os visados entendam que este espaço experimental é um pequeno e muito modesto contributo para a melhoria dos conteúdos. Nada mais. Esperamos todos "crescer" nesta troca de opiniões, neste debate...
20.1.04
Bem vindos ao escritanamesa. Escreve-se tanto sobre alimentação e nutrição que decidimos colocar na mesa as nossas opiniões. Tal como existe "lixo alimentar" também existe muita prosa sem qualidade na área da nutrição. E, se os conceitos estéticos e éticos são para discutir, existe uma parte científica e ortográfica menos dada a confusões.
Ao contrário do que se possa pensar, os Nutricionistas não estão sempre a mudar de opinião. A maior parte das recomendações sobre alimentação saudável mantêm-se relativamente estáveis ao longo do tempo. (Voltaremos a este assunto em breve). O que acontece é que na ansiedade das agendas mediáticas, o que é hoje importante passa amanhã a acessório. E pelo meios, às vezes, inventa-se um pouco, influenciado comportamentos e gerando ansiedades. Assunto complexo mas que vale a pena debater com a vossa ajuda.
Ao contrário do que se possa pensar, os Nutricionistas não estão sempre a mudar de opinião. A maior parte das recomendações sobre alimentação saudável mantêm-se relativamente estáveis ao longo do tempo. (Voltaremos a este assunto em breve). O que acontece é que na ansiedade das agendas mediáticas, o que é hoje importante passa amanhã a acessório. E pelo meios, às vezes, inventa-se um pouco, influenciado comportamentos e gerando ansiedades. Assunto complexo mas que vale a pena debater com a vossa ajuda.
Subscrever:
Mensagens (Atom)