Com a poesia aprende-se a arte de comprimir palavras sem perder o norte. O que vem mesmo a calhar para quem é candidato a divulgar ciência de forma simples e rigorosa.
Alexandre O'Neill, o mais subversivo poeta português, deixou-nos uma série de escritanamesa sobre animais e comidas que por vezes me apetece recordar. Este cherne é de 1958, do tempo da outra senhora (por favor, não fazer confusões...):
Sigamos o cherne, minha Amiga !
Desçamos ao fundo do desejo
Atrás de muito mais que a fantasia
E aceitemos, até, do cherne um beijo,
Senão já com amor, com alegria...
Em cada um de nós circula o cherne,
Quase sempre mentido e olvidado.
Em água silenciosa de passado
Circula o cherne: traído
Peixe recalcado...
Sigamos, pois, o cherne, antes que venha,
Já morto, boiar ao lume da água,
Nos olhos rasos de água,
Quando, mentido o cherne a vida inteira,
Não somos mais que solidão e mágoa...
5.4.04
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