31.3.04

Acrilamida

Esta substância tóxica utilizada na industria e presente no fumo dos cigarros foi detectada o ano passado e de forma acidental nos alimentos. Parece resultar do processamento térmico (fritar, assar...) e provavelmente sempre existiu nos alimentos. A FDA norte-americana revelou este mês os resultados de análises feitas a certos alimentos, como batatas-fritas e outros produtos consumidos regularmente. Vamos seguir atentamente este assunto. Por um lado, a acrilamida é tóxica e até cancerígena, por outro lado é provável que tenha existido nos alimentos processados desde que utilizamos o fogo... Como vão os nossos media divulgar este controverso assunto ? A seguir...

30.3.04

Hospital de S. João com ligação a galeria comercial

Notícia retirado do interessante Jornalismoportonet
um jornal digital de alunos da UP


"A cidade do Porto tem mais uma galeria comercial, o Campus São João. É um projecto inovador e a originalidade reside no facto de a galeria ter ligação directa ao hospital de São João. (...) Ontem, em dia de inauguração do espaço, Vítor Ruivo, presidente do Conselho Administrativo da Mundicenter, realçou que esta galeria tem um conceito diferente dos demais centros comerciais, pois “tem clientelas muito específicas”. Por um lado, dirige-se aos estudantes do pólo universitário da Asprela e, por outro, a todos que trabalham ou frequentam o hospital, que tem ligação directa à praça da restauração do Campus São João.
O administrador do Hospital São João passou em revista os problemas que estiveram por trás da construção do edifício e que levaram a que tivesse “um parto algo longo e difícil”. Segundo Mário Carvalho, as dificuldades resultaram da “originalidade do projecto” e da “difícil articulação da iniciativa pública com a iniciativa privada”.

Um breve comentário:

A partir de hoje os futuros licenciados da Universidade do Porto poderão passar a relembrar os bons velhos tempos de estudante passados na praça de fast-food deste centro comercial em pleno hospital. A sua cultura alimentar sairá enriquecida. A sua saúde sairá fortalecida. Mente sã em corpo sadio fruto do "investimento público" em articulação com o privado, zelando pelo bem estar dos futuros decisores deste país. Estes...aprenderão a comer com as mãos, com talheres de plástico, a conversar pausadamente de questões relevantes em ambiente calmo e sossegado e com um pouco de sorte ainda receberão brindes de peluche e jogos da Disney em cada visita. Paralelamente poderão observar as mães das crianças obesas que foram observadas na consulta de nutrição a oferecer um menú infantil (com pouco ketchup) aos seus rebentos que se portaram muito bem. Uma autêntica lição viva de cultura e promoção da saúde em ambiente hospitalar e universitário (muito procurado diga-se de passagem).

A relembrar

No nosso país ainda não existe regulação sobre a profissão de Nutricionista. Em todo o caso, recordo o que diz o Código de Ética do Profissional Nutricionista no Brasil um país bem mais "avançado" do que o nosso neste aspecto:

" Seção III - Das Proibições

Art. 9º. É vedado ao Nutricionista:

(...) valer-se de sua profissão para divulgar e/ou permitir a divulgação, em veículos de comunicação de massa, de marcas de produtos ou nomes de empresas, ligadas às atividades de alimentação e nutrição;
XI - dar, através de qualquer meio de comunicação de massa, atendimento individual, sob forma de consultas, diagnósticos ou dietas;"

Gostaria que alguns colegas reflectissem sobre este assunto controverso.

29.3.04

Transcrevo o excerto publicado no excelente webjornal - blog dedicado à comunicação e jornalismo citando Estrela Serrano na sua última coluna como Provedora do Leitor do DN:

"(...) a sensação que mais permanentemente acompanhou a provedora ao longo destes três anos foi a de que, apesar das sofisticadas técnicas de conhecimento das audiências, os jornalistas ou não conhecem os seus públicos (que não se confundem com as audiências) ou os ignoram. A ideia de que os jornalistas escrevem, sobretudo, para as suas fontes, para os seus pares e para as suas hierarquias continua a revelar-se pertinente."

Parece-me que esta frase se aplica de igual modo a muitos daqueles que escrevem sobre nutrição e alimentação nos nossos media. Saberão muitos deles quem é o seu verdadeiro público ? Qual o seu grau de literacia ? O que fica no fim da leitura destes textos ?

28.3.04

Fome em Portugal

A ler urgentemente se quisermos entender os mecanismos da fome: Pobreza e fomes - um ensaio sobre direitos e privações, de Amartya Sen, Prémio Nobel da Economia em 1998 e publicado em Portugal na editora Terramar. Este polémico economista desfez a noção que se passava fome quando faltava a comida. Para ele passa fome quem não consegue trocar o que produz por alimentos. E na nossa sociedade, com muito trabalho mas com baixos rendimentos, essa realidade dói cada vez mais. Em especial quando se esvazia o mundo rural e os laços que nos ligavam à produção agrícola. Aqui fica a primeira frase do Capítulo I:

"Morrer de fome é característico de algumas pessoas que não têm alimentos suficientes para comer. Não é característico de não haver alimentos suficientes para comer."

21.3.04

Paranóia securitária

Por esta Europa fora só se fala de segurança alimentar. Até os cozinheiros já são especialistas em hotelaria e segurança alimentar... Introduziu-se à força na nossa produção alimentar a palavra segurança alimentar. Criaram-se empresas para controlar a segurança alimentar. Instituíram-se símbolos para certificar a certificação. Assim, os alimentos mais seguros passaram a ser aqueles produzidos de forma uniforme, controlados higienicamente, embalados automaticamente, de forma barata, algures na China. Os nossos políticos ainda não pararam para pensar que a lógica securitária é uma das maiores ameaças ao nosso património cultural alimentar ?

20.3.04

Uma pérola

Gostaria de partilhar este pequeno texto "de divulgação científica" inserida no site da ARAP (Associação dos Refinadores de Açúcar Portugueses) .

"Factores dietéticos

O efeito da alimentação no desenvolvimento de cáries não é tão directo como se crê. Apesar de ter sido demonstrada a ligação entre o consumo de hidratos de carbono e a cárie dentária, este vínculo está, actualmente, a perder credibilidade na maior parte dos países europeus. Muitas pessoas consomem regularmente quantidades elevadas de açúcar e não sofrem de cáries nos dentes."

De facto, não existe aqui nenhuma incorrecção. Algumas crianças consomem regularmente grandes quantidades de açúcar mas depois de cada guloseima lavam os dentes, praticam desporto e vão ao dentista periodicamente. Essas, provavelmente não sofrem de cárie. No entanto, a maioria, (em especial as mais carenciadas) não lava os dentes depois de cada rebuçado, pratica pouco desporto e não tem acesso facilitado aos dentistas. Neste grupo, o açúcar pode contribuir de forma assustadora para a cárie, para obesidade e para uma enorme quantidade de patologias associadas.

A comunicação institucional destas associações e empresas utiliza cada vez mais a ciência para "vender" os seus produtos. Sendo a ciência algo de inacabado é sempre possível a sua utilização. Éticamente...já esta utilização é mais questionável. Deixo ao vosso critério.

19.3.04

Escrita anti-depressão

Os Portugueses que já eram deprimidos, estão piores nos últimos tempos. Contudo, aqui vão alguns excertos sobre a alimentação portuguesa e o Porto, publicados na revista Connect (ligada ao grupo Le Soir), número 70, de 15 de Março de 2004:" I went there to enjoy the Portuguese, and maybe to learn how they perfect that unique balance in their lives between what is really important and what in the end is simply superfluous." ..." Oporto is a city where enjoying yourself is immensely affordable. Dinner or lunch can cost only 15 Euros. For about 5 Euros you can have a "Francesinha" which is a Portuguese version of a croque monsieur, except a lot better." E a escrita na mesa continua assim, em tons de azul por duas páginas... Vá lá que o jornalista que escreveu não é do Porto nem pertence ao sistema do FCP.

10.3.04

Dúvidas

Duas frases que marcam uma discussão recente. Uma no editorial do boletim da Organização Mundial de Saúde (2003, 81,8):"Crianças com consumos elevados de refrigerantes ricos em açúcar possuem maiores probabilidades de serem obesas". Outra adoptada pelo governo norte-americano: "Os estudos realizados até agora são ainda insuficientes para suportar uma associação entre a ingestão deste tipo de bebidas e a probabilidade de uma criança se tornar obesa" (The Secretary of Health and Human Services, 2003). Como é que nós consumidores gerimos esta informação. E os profissionais da educação. E já agora... os jornalistas ?

8.3.04

Uma curiosidade. Quem visitou a Inglaterra e regressa lá agora percebe como está diferente a oferta. Mais variedade e qualidade dos frescos. Mais qualidade e variedade dos vinhos. Mais de tudo. Contudo, a cozinha dos indígenas, que me recebem sempre muito bem, continua pobre e engordurada. O que talvez queira dizer que a nossa forma de cozinhar muda mais lentamente do que a disponibilidade. O que talvez também pode querer dizer que quando quisermos mudar a nossa alimentação já poderá ser tarde.

De volta

Tal como previa não foi possível manejar o blogger de Manchester. Em todo o caso nas leituras de viagem ficou na retina uma coluna muito interessante no Independent escrita por Heston Blumenthal chamada The Appliance of Science. De uma forma simples tenta passar-se para o leitor algumas questões técnicas relacionadas com a prática culinária misturando a física, a química e outras ciências. Desta vez abordava-se o facto de por vezes se deixar a carne "descansar" durante alguns dias antes de cozinhar. Esta prática é muito comum com as peças de caça. Explica-se porque razão a carne pode ficar mais saborosa e a partir de quantos dias esta técnica deixava de ter efeito. Aqui fica uma sugestão para novos escritos na mesa sem ser sempre sobre a mesma coisa. Pode que a nossa literacia sobre ciência aumente tocando a comida e as suas artes que interessam a muita gente.