29.2.04

Caros amigos que partilham este espaço e o fazem amadurecer, vamos estar para fora durante a próxima semana. Apesar de a rede não ter fronteiras dificilmente conseguiremos colocar algo por aqui. Prometemos mais vigor e entusiasmo no regresso. Para os bloquinhos, uma mensagem especial.. o tempo corre depressa.

Higiene oral: o açúcar não é inimigo

A propósito do Mestre Emílio Peres e do seu discurso sobre o açúcar e ainda do recurso à ciência para legitimar determinadas mensagens na área da nutrição, leiam com olhos de ver um texto que começa assim no site da Associação dos Refinadores de Açúcar Portugueses.

"Nas últimas três décadas, apesar de o consumo de açúcar ter sido uma constante, as cáries dentárias em crianças e adolescentes da maioria dos países europeus têm decrescido. Quais serão as causas desta tendência positiva? Aparentemente, o mérito pertence a uma higiene oral melhor (escovar os dentes com mais frequência e usar fio dental) e ao flúor."


O mestre

Nesta radiosa manhã de Domingo recordo a escrita do Mestre Emílio Peres, sempre limpída e inspiradora: (desta vez a propósito do consumo de açúcar)

"Desde a Antiguidade até ao século passado, o açúcar foi acima de tudo produto de farmácia. Também distinguia os senhores ricos da bacia mediterrânica, sobretudo muçulmanos e italianos, que o usavam em festivas guloseimas dulcíssimas." In Alimentação Saudável. Ed. Caminho, 1991.

Em poucas palavras, o açúcar é devolvido à sua condição de alimento de luxo, ocasional e próprio de festejos, muito diferente daquele com que vivemos todos os dias nesta sociedade açucarada e obesa ... Viva o açúcar de ocasião depois da fausta refeição, ocasional, domingueiro... não aquele que diariamente perturba o funcionamento do fígado e pâncreas, empobrece refeições e favorece a cárie.

23.2.04

A propósito de um comentário sobre a utilização da ciência nos debates políticos veja-se a polémica em torno dos refrigerantes. A administração Bush criticou recentemente a OMS pelo facto de esta ter alertado para o impacto que estas bebidas podem ter no desenvolvimento da obesidade.Para a administração Bush, esta recomendação não tem fundamento científico pois até hoje os peritos não conseguiram provar que bebidas deste tipo têm influência no desenvolvimento da obesidade. Os argumentos e contra-argumentos desta discussão podem ser vistos no site de Henry Waxman e do seu grupo de trabalho.
O livro de Bjorn Lomborg: "The SKeptical Environmentalist" lançou uma tremenda polémica. Apesar de posteriormente o autor ter sido considerado "desonesto", o seu livro sobre o ambiente foi na altura um sucesso mediático lançando um grande debate sobre as questões ambientais. Contudo as suas conclusões (por ex: o ar de Londres é hoje mais puro do que em 1585) foram baseadas em estudos não revistos por colegas (peer-reviewed). O livro foi muito bem aceite pelos media. Este autor desconhecido começou a ter sucesso antes de o mundo académico ter tido tempo para analisar as conclusões emitidas no livro. A velocidade dos media sobre a análise crítica dos cientistas revela uma nova questão. Nestes tempos de grande velocidade deverá ser maior a responsabilidade dos media ? A história deste caso pode ser lida sumariamente no scienceandmedia

20.2.04

Nem de propósito, surgiu hoje uma referência ao relatório Henry Waxman no qual se demonstra como é que a política e a ciência estão cada vez mais perto. Serão apenas os políticos a manipular dados fornecidos pelos cientistas? No caso Português, as comissões de peritos têm servido basicamente para legitimar algumas decisões do poder político. Quando as conclusões são opostas ao que se queria, o estudo fica geralmente na gaveta. Outras questões, como o verdadeiro custo e eficácia dos Hospitais SA, por exemplo, merecem certamente uma análise económica e social de jornalistas especialistas na matéria com tempo para estudarem os temas. Quem comunica sobre nutrição necessita pois de um conhecimento aprofundado sobre a ciência mas também uma consciência crítica face à informação existente.

19.2.04

A responsabilidade é apenas de quem escreve ?

Recentemente (2002) Hugo Mendes escreveu sobre a visibilidade da ciência nos mass media, no livro organizado por Maria Eduarda Gonçalves intitulado "Os Portugueses e a Ciência" publicado pela Dom Quixote. A certa altura diz o autor "Enquanto os avanços científicos parecem apelar para o aprofundamento da reflexão sobre a responsabilidade dos cientistas, estes encontraram mais um grupo para o qual podem transferir parte dessa responsabilidade: os jornalistas". De facto, ouve-se frequentemente dizer que o jornalista não soube "ouvir" o que se transmitiu, que transformou a informação dada ou até que a descontextualizou. Parece-nos que, sendo actualmente a informação produzida pela ciência determinante para o nosso desenvolvimento humano e social, quem a produz deverá tentar perceber a melhor forma de a divulgar.

Comunicação Institucional - I

Os Nutricionistas e demais profissionais de saúde estão cada vez mais envolvidos nos processos comunicacionais das instituições. Recebemos 2 revistas onde essa actividade é relevante. A primeira chama-se Az-zait e pertence à Associação do Azeite de Portugal (www.casadoazeite.pt) tendo ganho recentemente diversos prémios a nível nacional e internacional. A segunda chama-se iogurte vivo e pertence ao Centro de Informação do Iogurte. Qual o papel do Nutricionista neste tipo de revistas ? Qual a dimensão ética do seu contributo e que questões se podem levantar ?

17.2.04

Uma nota breve e pessoal para os Bloguinhos:
O processo de criação dos weblogs da turma está activo. Aconselha-se grande sentido de ética e qualidade científica. A responsabilidade pelos "escritos" é vossa.

16.2.04

Descobri mais um interessante espaço de crítica na área da educação para a saúde. Muito interessante para Nutricionistas e Professores interessados nas questões da Saúde.

Dieta Mediterrânica

Há 300 anos, a carne de vaca era dura e provavelmente pouco apreciada na Península Ibérica. Comenta Cervantes, sobre Dom Quixote, cavaleiro na penúria, que no momento de entrar para a cavalaria a sua situação não iria melhorar pois comeria "mais seguidamente boi que carneiro".
Que riqueza tem este nosso padrão alimentar que herdou o carneiro e o grão dos Árabes e lhe acrescentou a canela e a pimenta dos Reinos de além-mar. Depois, chegou o Império do bife a cavalo e perdemos de vista o outro cavaleiro. Com o bife chegaram as natas, a carne picada e a gordura saturada de uma política agrícola em ruptura com as nossas raízes e entupidora das nossas artérias. Que diriam as nossas avós da crise da BSE ? Creio que entre um caldo verde e uma pratada de grão com massa iriam rir-se destas ansiedades modernas...
Esta semana vão juntar-se ao blog mais bloguinhos. Trata-se de um projecto desenvolvido na disciplina de comunicação da licenciatura em Ciências da Nutrição da Faculdade de Ciências da Nutrição e Alimentação da Universidade do Porto (FCNAUP). O objectivo é construir uma rede de crítica construtiva ao que se escreve sobre nutrição na nossa imprensa. Tentarei dar conta do andamento do projecto aqui, bem como colocar brevemente os links para os respectivos espaços críticos.

15.2.04

Escrever sobre alimentação implica responsabilidade - II

Apanho diversas frases soltas do artigo "A revolução na nossa mesa" publicado na Revista Focus nº 225 de 2004 assinado por Patrícia Correia Branco:

" Então o melhor é usar apenas azeite e vinagre que, apesar de terem muitas calorias, são consideradas gorduras saudáveis".

"A dieta mediterrânica... é rica em proteínas, vitaminas e outras substâncias essenciais..."

O vinagre obviamente não é uma gordura. Quanto à dieta mediterrânica poderemos acrescentar que se trata de um padrão alimentar onde está presente o azeite como gordura central. Os produtos hortícolas, as frutas e os cereais abundam, assim como as leguminosas (feijão, grão, lentilha...) que são muito frequentes. O vinho ou o chá bebe-se ocasionalmente a acompanhar as refeições. A carne e o pescado consomem-se com bastante moderação. Este padrão alimentar com grande recurso aos produtos vegetais e promotor de uma grande frugalidade, fornece uma grande quantidade de substâncias protectoras, gordura e hidratos de carbono de grande qualidade. Ao contrário dos padrões alimentares dos países do Norte da Europa, a quantidade total de proteína é moderada ou até baixa. Isto não impede as populações que praticam este regime alimentar de terem grande longevidade e menor prevalência de doença oncológica e cardiovascular. Para saber mais sobre este assunto aconselho a visita de um espaço na net dedicado ao assunto.





14.2.04

Escrever sobre alimentação implica responsabilidade - I

A primeira questão que salta à vista neste texto da Focus são algumas frases que podem prejudicar seriamente quem as lê. Um exemplo ? Aqui vai. "Água, sumos naturais e bebidas sem açúcar, álcool e cafeína são as mais indicadas para matar a sede". A forma como a frase está escrita pode levar a pensar que o álcool e a cafeína são substâncias indicadas para "matar a sede". O álcool e cafeína são substâncias com efeito diurético, podendo actuar como desidratantes, precisamente o contrário do que se diz no texto. Quem bebe álcool para matar a sede acelera a desidratação que em casos extremos pode originar a morte. Quem bebe regularmente álcool para matar a sede, substituindo a àgua, corre o risco de afectar fígado e rins, o sistema nervoso e órgãos mais activos como o pâncreas.
Apesar de em seguida se tentar explicar o mecanismo de actuação da cafeína e do álcool sobre a nossa saúde, a pontuação desta frase pode afectar o seu entendimento e prejudicar a saúde de quem a lê.

11.2.04

Revista Focus

A revista Focus nº 225 de 4 de Fevereiro vais ser o nosso primeiro tema de debate. Com o título "A revolução na nossa mesa" a colaboradora Patrícia Branco escreveu um texto sobre a nova Roda dos Alimentos. Neste texto (páginas 32 a 35) encontrámos dezenas de imprecisões que iremos analisar à lupa nos próximos posts.

2.2.04

Gostei de um projecto da Universidade do Minho com a disciplina de jornalismo. A experiência é muito interessante e extremamente concorrida.

1.2.04

O nosso objectivo é fazer uma crítica construtiva à escrita sobre nutrição nas revistas e jornais que se publicam em Portugal. Neste projecto estão envovidos vários grupos de pessoas, todos estudantes do ensino superior, com interesse pelas ciências da nutrição. Estes grupos irão manter activos espaços de crítica até pelos menos Junho de 2004. Os endereços serão divulgados em breve. Depois desta data logo se verá.

A primeira questão a debater é o que entendemos por crítica construtiva.
Pretende-se rigor científico. Esse critério é relativamente simples, apesar de nem sempre a ciência ser a preto e branco.
Pretende-se clareza. Ser claro significa passar a mensagem de forma simples e acessível a todo o público alvo. Bem sabemos que aqui a coisa torna-se mais difícil de avaliar. Tentaremos ser justos.
Pretende-se consistência. As ciências da nutrição nasceram há pouco tempo e, como em muitas outras áreas do saber, existem ainda muitas dúvidas. Quem escreve deve dar a sua opinião e colocar os seus argumentos na mesa de forma ordenada.
Pretende-se sentido ético. Quando sentirmos que o objectivo está situado para além daquilo que entendemos como divulgação científica não vamos hesitar e chamaremos a atenção.
Pretende-se também algum prazer. Da ironia, do sentido de humor, da boa escrita, dos temas interessantes, da mais valia que trouxeram ao nosso dia-a-dia.
Esperamos agora que os visados entendam que este espaço experimental é um pequeno e muito modesto contributo para a melhoria dos conteúdos. Nada mais. Esperamos todos "crescer" nesta troca de opiniões, neste debate...